O Curioso Caso de Benjamin Button e Outras Histórias da Era do Jazz - F. Scott Fitzgerald
" - ... E que acha você deveria merecer nossa maior atenção, depois dos pregos e martelos? - dizia o Button mais idoso.
- O amor - respondeu, alheado, Benjamin.
- Tambor? - exclamou Roger Button. - Mas se já falei, há pouco, em tambores!...
Benjamin fitou-o com olhos estonteados, justamente no momento em que o céu, a leste, se abria, de repente, numa inundação de luz, e um oriole pipilava estridente, em meio às árvores que despertavam."
Quem amou o filme não pode deixar de ler o livro!
Maravilhoso!
J.
Citações, transliterações, heterodiegeses e afins
sábado, 12 de novembro de 2011
quarta-feira, 6 de julho de 2011
O Inverno está chegando...
A Guerra Dos Tronos - George R.R. Martin
"-Por que lê tanto?
"-Por que lê tanto?
Tyrion ergueu os olhos ao ouvir aquela voz. Jon Snow estava a alguns pés de distância, olhando-o com curiosidade. Fechou o livro sobre um dedo e disse:
-Olhe-me e diga o que vê.
O rapaz olhou-o com suspeita.
- Isto é algum truque? Vejo você. Tyrion Lannister.
Tyrion suspirou.
- Você é notavelmente gentil para um bastardo, Snow. O que você vê é um anão. Você tem o quê? Doze anos?
- Catorze - disse o rapaz.
- Catorze, e é mais alto do que alguma vez serei. Minhas pernas são muito curtas e tortas, e caminho com dificuldade. Necessito de uma sela especial para não cair do cavalo. Uma sela de minha própria concepção, talvez te interesse saber. Era isso ou montar um pônei. Meus braços são suficientemente fortes mas, uma vez mais, demasiado curtos. Nunca serei um espadachim. Se tivesse nascido camponês, provavelmente teriam me expulsado para que morresse, ou vendido para a coleção de aberrações de algum negociante de escravos. Mas, ai de mim! Nasci um Lannister de Rochedo Casterly, e as coleções de aberrações são das mais pobres. Esperam-se coisas de mim. Meu pai foi Mão do Rei durante vinte anos. Aconteceu que mais tarde meu irmão matou esse mesmo rei, mas minha vida está cheia dessas pequenas ironias. Minha irmã casou-se com o novo Rei e o meu repugnante sobrinho será rei depois dele. Devo cumprir minha parte pela honra de minha Casa, não concorda? Mas como? Bem, poderei ter as pernas pequenas demais para o corpo, mas minha cabeça é grande demais, embora eu prefira pensar que tem o tamanho certo para minha mente. Possuo um entendimento realista das minhas forças e fraquezas. A mente é a minha arma. Meu irmão tem sua espada, o Rei Robert, o seu martelo de guerra, e eu tenho a mente...e uma mente necessita de livros da mesma forma que uma espada necessita de uma pedra de amolar se quisermos que se mantenha afiada - Tyrion deu uma palmada na capa de couro do livro - É por isso que leio tanto, Jon Snow."
C.
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Nas asas do Pássaro Encantado...
Cantos do Pássaro Encantado - Rubens Alves
"Há uma estória que não me canso de repetir e, a cada vez que o faço, pássaros selvagens passam voando, bem alto.
Eu a li pela primeira vez num dos livros de Gabriel García Márquez. Mas isso aconteceu há muito tempo...Nem sei se a estória continua a mesma, porque estórias ficam diferentes cada vez que contadas. Como os poemas, elas são o mesmo que é sempre diferente..."
Essa introdução da crônica O Afogado me pareceu encantadora. Um livro de crônicas sobre as diversas fases do amor...Simplesmente adorável.
C.
quarta-feira, 4 de maio de 2011
Espelho da alma, livrai-nos do mal...
Através do Espelho - Jostein Gaarder
"Você falou que a gente fica triste quando uma coisa é bonita, ou que a gente fica bonita quando uma coisa é triste?"
A avó não responde. Ficou apenas segurando a mão de Cecília e olhando nos seus olhos.
"Tem um caderno debaixo da minha cama", disse Cecília. "Quer pegar para mim?"
"A avó soltou uma das mãos e apanhou o caderninho chinês. Achou também uma caneta preta.
"Dá para você escrever uma coisa para mim?", pediu Cecília.
A avó soltou a outra mão e Cecília ditou:
"Nós enxergamos tudo num espelho, obscuramente. Às vezes conseguimos espiar através do espelho e ter uma visão de como são as coisas do outro lado. Se conseguíssemos polir mais esse espelho, veríamos muito mais coisas. Porém, não enxergaríamos mais a nós mesmos."
A avó levantou os olhos do caderno.
"Não é um pensamento profundo?", perguntou Cecília.
A avó concordou, e algumas lágrimas lhe correram pelo rosto.
"Você está chorando?", perguntou Cecília.
"Sim, queridinha, estou chorando."
"Porque é bonito ou porque é triste?"
"As duas coisas."
"Tem mais."
"Continue, então..."
"Se eu fosse desenhar alguma coisa e soubesse que no final meu desenho iria criar vida, eu não me atreveria a desenhar nada, absolutamente nada. Jamais me atreveria a dar vida a algo que não conseguisse se defender contra aqueles lápis coloridos, tão ambiciosos..."
O quarto ficou em silêncio. O resto da casa também estava absolutamente quieto.
"O que você acha?", perguntou Cecília.
"Muito bom..."
"Dá para você escrever mais?"
"A avó chorou um pouquinho de novo. Daí fez que sim, e Cecília ditou:
"Tanto a criação como os céus são um mistério, um mistério tão grande que nem os seres humanos da terra nem os anjos do céu conseguem compreender. Mas existe algo no firmamento que não está bem certo. Alguma coisa saiu errada naquele grande plano geral."
Ela ergueu os olhos.
"Só mais uma coisinha."
A avó fez que sim, e Cecília disse:
"Todas as estrelas acabam caindo. Mas uma estrela é apenas uma pequenina centelha do grande facho de luz que há no céu."
Foi muito difícil escolher apenas um momento do livro. Ele toca bem lá no fundo da nossa alma.
Excelente!
J.
domingo, 27 de março de 2011
Memórias...
Memórias Póstumas de Brás Cubas - Machado de Assis
"Ocorre-me uma reflexão imoral, que é ao mesmo tempo uma correção de estilo. Cuido haver dito, no capítulo XIV, que Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa de morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramática. Bons joalheiros, que seria do amor se não fossem seus dixes e fiados? Um terço ou um quinto do universal comércio dos corações. Esta é a reflexão imoral, porque não se entende bem o que eu quero dizer. O que eu quero dizer é que a mais bela testa do mundo não fica menos bela, se a cingir um diadema de pedras finas; nem menos bela, nem menos amada. Marcela, por exemplo, que era bem bonita, Marcela amou-me...
...Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos."
Adoro esse livro. Quando penso em realismo é o livro que me vem a cabeça.
C.
sábado, 5 de março de 2011
Olhai os lírios do campo...e só...
Olhai os lírios do campo - Erico Verissimo
"Eugênio viu um vulto familiar surgir a uma esquina e sentiu um desfalecimento. Reconheceria aquela figura de longe, no meio de mil... Um homem magro e encurvado, malvestido, com um pacote no braço, o pai, o pobre Ângelo. Lá vinha ele subindo a rua. Eugênio sentiu no corpo um formigamento quente de mal - estar. Desejou - com que ardor, com que desespero! - que o velho atravessasse a rua, mudasse de rumo. Seria embaraçoso, constrangedor se Ângelo o visse, parasse e o dirigisse a palavra. Alcibíades e Castanho ficariam sabendo que ele era filho dum pobre alfaiate que saía pela rua a entregar pessoalmente as roupas dos fregueses... Haviam de desprezá-lo mais por isso. Eugênio já antecipava o amargor da nova humilhação. Olhou para os lados, pensando numa fuga. Inventaria um pretexto, pediria desculpas, embarafustaria pela primeira porta de loja que encontrasse. Ouviu a voz baixa e calma de Castanho...o 'conceito hegeliano...'. Podia entrar naquela casa de brinquedos e ficar ali escondido, esperando que Ângelo passasse... Hesitou ainda um instante e quando quis tomar uma resolução, era tarde demais. Ângelo já os defrontava. Viu o filho, olhou dele para os outros e o seu rosto se abriu num sorriso largo de surpreendida felicidade. Afastou-se servil para a beira da calçada, tirou o chapéu.
-Boa Tarde, Genoca! - exclamou
O orgulho iluminava-lhe o rosto.
Muito vermelho e pertubado, Eugênio olhava para a frente em silêncio, como se não o tivesse visto nem ouvido. Os outros também continuavam a caminhar, sem terem dado pelo gesto do homem.
A sensação de felicidade, entretanto, desaparecera de Eugênio. Sentia-se culpado. O que acabara de fazer era desumano, ignóbil, chegava a ser criminoso. Por que se envergonhava do pai? Não era um homem decente? Não era um homem bom? Não era, em última análise, seu pai?
Ainda havia tempo de reparar o mal que fizera. Podia voltar, tomar Ângelo pelo braço, carinhosamente, subir a rua com ele... Por que não fazia isso?'...aquele trecho do Banquete...', Dizia Castanho. Sim, beijar a mão do pai, confessar-lhe a culpa, dizer seu remorso, pedir-lhe perdão, humilhar-se. Mas lá se ia acompanhando os outros como um autômato. Voltou a cabeça, procurando. Ângelo tinha desaparecido."
A primeira vez que li esse livro, tinha por volta dos 7 anos. Onze anos depois da primeira leitura, essa passagem ainda me parece a mais marcante. Nunca me canso de ler... É sempre bom lembrar que nossas prioridades nos definem...e é algo com o qual teremos de lidar.
C.
domingo, 27 de fevereiro de 2011
Do outro lado da cerca...com um pijama listrado...
O Menino do pijama listrado - John Boyne
"'E nós, somos judeus?'
Gretel abriu a boca espantada, como se tivesse recebido um tapa no rosto.'Não Bruno', disse ela, 'Nós absolutamente não somos judeus. E você não devia sequer dizer uma coisa dessas.'
'Mas por que não? O que nós somos, então?'
'Nós somos...', começou Gretel, mas então teve que parar e pensar a respeito. 'Somos...', repetiu, ainda sem saber qual era a resposta para essa pergunta. 'Bem, não somos judeus', disse ela afinal.
'Já sei que não somos', disse Bruno, frustrado. 'Estou perguntando: já que não somos judeus, o que nós somos então?'
'Somos o contrário', disse Gretel, respondendo rapidamente e parecendo mais satisfeita com esta resposta. 'Sim, é isso. Nós somos o contrário'
'Certo', disse Bruno, feliz porque finalmente esclareceu o problema. 'E o contrário mora deste lado da cerca, e os judeus, daquele lado.'
'É isso mesmo, Bruno'
'Os judeus não gostam do contrário, então?
'Não, estúpido, somos nós que não gostamos deles.'
'Então, porque não gostamos deles?',perguntou ele.
'Porque são judeus', disse Gretel.
C.
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