domingo, 30 de janeiro de 2011
Sonhos numa noite de inverno...
Se um Viajante numa Noite de Inverno - Italo Calvino
" Não que você espere algo de especial deste livro em particular. Você é daquelas pessoas que, por princípio, já não espera nada de nada. Há tanta gente, mais jovem ou mais velha que você, que vive à espera de experiências extraordinárias - dos livros, das pessoas, das viagens, dos acontecimentos, de tudo que o amanhã guarda em si. Você não. Você já aprendeu que o melhor que se pode esperar é evitar o pior. É essa a conclusão que chegou, tanto na vida privada como nas questões gerais e nos problemas do mundo. E quanto aos livros? Aí está: justamente por ter renunciado a tantas coisas, você acredita que seja certo conceder a si mesmo o prazer juvenil da experiência num âmbito bastante circunscrito, como este dos livros, em que as coisas podem ir bem ou mal, mas em que o risco da desilusão não é grave"
Um livro que te faz de personagem...
C.
quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Amor através do tempo...
O amor nos tempos do cólera - Gabriel García Márquez
" Fermina Daza se despediu da maioria junto ao altar, mas acompanhou o último grupo de amigos íntimos até a porta da rua, para fechá-la ela própria, como era seu costume. Dispunha-se a fazê-lo com o último alento, quando viu Florentino Ariza vestido de luto no centro da sala deserta. Ficou satisfeita, porque há muitos anos o havia apagado de sua vida, e pela primeira vez tinha consciência de vê-lo depurado pelo esquecimento. Mas antes que pudesse lhe agradecer a visita, ele pôs o chapéu em cima do coração , trêmulo e digno, e arrebentou o abscesso que tinha sido o sustento de sua vida:
- Fermina - disse - esperei esta ocasião durante mais de meio século, para lhe repetir uma vez mais o juramento de minha fidelidade eterna e meu amor para sempre.
Fermina Daza teria se julgado diante de um louco(...) Seu impulso imediato foi maldizê-lo pela profanação da casa quando ainda estava quente no túmulo o cadáver de seu esposo. Mas foi contida pela dignidade da raiva. 'Vá embora' , lhe disse. 'E não se deixe ver nunca mais nos anos que ainda lhe restarem de vida.' Abriu de novo por completo a porta da rua que tinha começado a fechar, e conclui:
- Que espero que sejam poucos."
"Tudo que era do esposo lhe atiçava o pranto: os chinelos de borlas, o pijama debaixo do travesseiro, o espaço sem ele no espelho da penteadeira, o cheiro pessoal dele em sua própria pele. Abalou-a um pensamento vago: ' As pessoas que a gente ama deviam morrer com todas as suas coisas.'"
Não consigo mais escolher só uma sentença....ficarão as duas....Uma história de amor lindíssima.
C.
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Oh, admirável mundo novo, que encerra criaturas tais...
Admirável Mundo Novo - Aldous Huxley....não encontrei titulo melhor do que as palavras de Miranda( A Tempestade - Shakespeare) citadas pelo Selvagem (personagem do livro)
"...se fosse novo, não poderia de maneira alguma ser parecido com Otelo
- Porque não?
- Porque nosso mundo não é o mesmo mundo de Otelo. Não se pode fazer um calhambeque sem aço, e não se pode fazer uma tragédia sem instabilidade social. O mundo agora é estável. As pessoas são felizes, têm o que desejam e nunca desejam o que não podem ter. Sentem-se bem, estão em segurança; nunca adoecem; não têm medo da morte; vivem na ditosa ignorância da paixão e da velhice; não se acham sobrecarregadas de pais e mães; não têm esposas, nem filhos, nem amantes, por quem possam sofrer emoções violentas; são condicionadas de tal modo que praticamente não podem deixar de se portar como devem."
"- Tudo isso me parece absolutamente horrível
- Sem dúvida . A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem de fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada de pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa."
"- Tudo isso me parece absolutamente horrível
- Sem dúvida . A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem de fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada de pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa."
Oh, admirável mundo novo...
C.
segunda-feira, 17 de janeiro de 2011
Romantismo à tona...
Orgulho e Preconceito - Jane Austen
"Darcy conservou-se sentado durante alguns instantes e depois, levantando-se, pôs-se a passear pela sala. Elizabeth estava espantada, mas nada disse. Após um silêncio de alguns minutos, aproximou-se, agitado, e disse:
- Em vão tenho lutado, mas de nada valeu. Meus sentimentos não podem ser reprimidos e permita-me dizer-lhe que a admiro e a amo ardentemente."
A mais bela declaração de amor já dita por um homem, o livro mais incansável e apaixonante que já li. Amor que ultrapassou todas as barreiras.
J.
sábado, 15 de janeiro de 2011
E a inveja mata?...
Mal Secreto (INVEJA) - Zuenir Ventura
"...Dorrit disse que era fascinada pelo tema porque se tratava de um sentimento inconfessável e tão insidioso que fazia com que os outros seis pecados parecessem até "invejáveis". Podia-se controlar a cobiça e acalmar a ira. Seria possível sublimar a luxúria e saciar a gula; o orgulho não chegava a ser mortal e a preguiça não era um estado irreversível. Mas a inveja, não, ela era inesgotável, um eterno descontentamento consigo mesmo.(...) uma busca de adjetivos para classificar a inveja.Ela é "paciente", dizia minha amiga; "dissimulada", acrescentava eu. E mais adjetivos foram surgindo: sub-reptíca, insaciável, incontrolável, duradoura, caprichosa, sorrateira, calculista, cumulativa. (...) talvez tivéssemos nos esforçado demais para chegar a conclusões óbvias, como a de que a inveja é um sentimento universal."
C.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
À procura do farol...
"A Vaidade é tão verdadeiramente a origem de todos os pecados, que até a Igreja evita mencioná-la como tal, preferindo incluir o orgulho entre os pecados capitais. Mas não, não é o orgulho, esse inofensivo aparato de pavão, que depende dos outros para ter alguma valia. A Vaidade, que alimenta a si mesma, subordina todos os pecados e tudo o que é reprovado pelos sistemas, religiosos ou não, que lidam com o conceito de pecado e afins. A Vaidade, que não precisa exibir-se para existir, solapa até mesmo a santidade dos mais crentes, porque há Vaidade em saber-se ao lado direito do pretenso Criador. Ao fazer questão de confessar minha Vaidade, instigo pelo menos alguns leitores menos esquivos a cutucar a que também domina seus espíritos e, apesar de não parecer, é um sentimento que não depende dos outros, Vaidade é um dado do próprio sujeito, relaciona-se basicamente com ele mesmo."
J.
domingo, 2 de janeiro de 2011
Cem anos de solidão...
Cem anos de solidão - Gabriel García Márquez
"Naquela noite interminável, enquanto o Coronel Gerineldo Márquez evocava as suas tardes mortas no quarto de costura de Amaranta, o Coronel Aureliano Buendía arranhou durante muitas horas, tentando rompê-la, a dura casca da sua solidão. Os seus únicos momentos felizes, desde a tarde remota em que seu pai o levara para conhecer o gelo, haviam transcorrido na oficina de ourivesaria, onde passava o tempo armando peixinhos de ouro. Tivera que promover 32 guerras, e tivera que violar todos os seus pactos com a morte e fuçar como um porco na estrumeira da glória, para descobrir com quase quarenta anos de atraso os privilégios da simplicidade."
"Aureliano Segundo resolveu que era preciso trazê-la para casa e protegê-la, mas o seu bom propósito foi frustrado pela inquebrantável intransigência de Rebeca, que tinha necessitado de muitos anos de sofrimento e miséria para conquistar os privilégios da solidão e não estava disposta a renunciar a eles em troca de uma velhice perturbada pelos falsos encantos da misericórdia."
Não consegui escolher apenas uma. Cem anos de solidão foi o ultimo livro de 2010. Coincidiu com a leitura de O Homem na Multidão de Edgar Allan Poe que cita La Bruyère " É muito triste não poder estar só". Estava a tanto tempo sem solidão que já tinha esquecido de certos privilégios de estar só...
C.
Assinar:
Postagens (Atom)